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Rosa & Romances

Rosa & Romances

Atalaia 4 - [capitulo 11]

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Depois de um almoço animado na pizaria, o professor despediu-se e o grupo regressou a casa pois tinham abusado um pouco da sangria fresca e os corpos, afectados pela bebida e pelo calor, reclamavam estender-se em espaço fresco. Alguns dormiram profundamente e outros apenas dormitaram.

Pela tardinha já estavam preparados, aguardando a chegada de Sérgio, que tinha combinado vir buscá-los para que o seguissem até à casa.

Pedro Dias estava pronto para levar a carrinha e começava a estranhar a insistência de Lena que, por várias vezes, já lhe pedira para ter lugar garantido no seu carro. Perto das 19.00 horas o professor apareceu ao volante do seu jeep metalizado e Lena procurou esquivar-se atrás dos companheiros. Sérgio, muito cortês, deu os dois lugares de trás à Sara e à Adília, reservando o lugar ao lado do condutor. Depois acercou-se de Magda, pegou-lhe na mão e com reverência, perguntou:

-Gentil menina dá-me o prazer da sua companhia?

-Claro que sim. – Respondeu Magda, perfeitamente rendida ao charme do professor.

-Então faça o favor de ocupar lugar de destaque.

O homem abriu a porta e aguardou que a rapariga se sentasse. Depois rodeou o carro e sem fixar ninguém em particular, perguntou se estavam prontos a partir. Pedro Dias respondeu, confirmando que sim com a cabeça, enquanto Lena e Mónica se instalavam, uma atrás e outra ao lado do condutor.

Enquanto seguiam o jeep do Professor, Maria Madalena interrogava-se mentalmente sobre as atitudes de Sérgio. Parecia-lhe agora desinteressado da sua pessoa e esse comportamento embora lhe agradasse, não deixava de lhe causar uma certa perplexidade.

A viagem foi curta. Lena no entanto, sozinha no banco de trás da carrinha de Pedro e absorta nos seus pensamentos, achou-a aborrecida e prolongada. Quando chegaram à casa, uma vivenda bastante espaçosa e muito moderna, uma senhora de meia-idade veio recebê-los. Sérgio apresentou-a:

-A minha governanta, D. Eunice, ficou para servir o jantar.

-Muito prazer. – Responderam quase em coro.

Entraram e puseram-se à vontade. Lena reconheceu em cada canto o gosto refinado de Sérgio, vendo na decoração da casa muitas semelhanças com o apartamento que frequentara em Évora. Depois procurou o homem com o olhar. Este andava atarefado dando indicações a D. Eunice para servir alguns aperitivos antes do jantar ao mesmo tempo que abria uma garrafa de vinho.

A noite surgia amena e na varanda central da vivenda uma mesa redonda expunha alguns copos, um balde de gelo e várias garrafas de bebida. Algumas meninas serviram-se de “Martini”com limão e hortelã mas Pedro Dias e o professor experimentaram o vinho branco, bem fresco. Magda muito animada, não deixava de rodear os dois elementos masculinos e bebia com eles uma taça de vinho que o professor lhe oferecera. Maria Madalena não resistia a observá-la e deitou-lhe, em certo momento, um olhar de soslaio.

A rapariga não se desarmou:

-Muito obrigado pela excelente companhia, cavalheiro. – Agradeceu. Depois, em tom de gracejo, acrescentou: - Minha prima observa-me… parece preocupada com o meu beber.

Sérgio fixou Lena e com ar de troça, respondeu:

-Nada tem a temer. Se ficar alegre pode rir. Se ficar tonta pode amparar-se. Se tiver sono pode dormir que eu ofereço-lhe até…uma cómoda cama!

Magda soltou uma risada.

-Seria extremamente agradável poder pernoitar em vossa casa.

Com esta intervenção até Pedro Dias se mostrou admirado.

-Menina Magda, em cinco noites que tenho o prazer da sua companhia, nunca lhe vi tamanha disponibilidade…

-Porque não soube agradar-me…-Retorquiu Magda com picardia.

O professor veio reforçar o gracejo de Magda.

-Sabe como é…jovens inexperientes! Para tudo se quer um homem…

-Professor tenha dó de mim. Seria impensável a um homem só, agradar ao mesmo tempo, a cinco belíssimas mulheres.

-Poderá ser uma tarefa inglória, no entanto, muito prazenteira. – O homem piscou o olho ao jovem Pedro e os dois riram com cumplicidade.

Lena e Mónica tinham ocupado um canapé de verga com almofadas coloridas e bebericavam uma limonada.

-A tua priminha está encantada com o prof… – Comentou Mónica em surdina para depois acrescentar entre dentes: - deve ser mal de família.

Lena encolheu os ombros em sinal de desinteresse. Estava decidida a ignorar a estratégia de Sérgio. Se ele pensava que fazer a corte a Magda a incomodava, estava redondamente enganado.

D. Eunice veio avisar que o jantar podia ser servido e Sérgio pediu aos convidados que ocupassem lugar na sala de refeições. A mesa estava decorada com toda a elegância mas não houve qualquer formalidade na ocupação dos lugares. Lena e Mónica juntas, Sara e Adília também e Magda entre Sérgio e Pedro Dias. De referenciar que Pedro Dias tinha Adília à sua direita e Sérgio tinha Lena à sua esquerda.

A ementa era requintada e D. Eunice trouxe para a mesa dois tabuleiros quentes, um de bacalhau gratinado e outro de carne estufada. Serviu salada, arroz e batatas fritas. Depois Sérgio agradeceu-lhe e mandou-a retirar-se, porque já estava na hora de regressar a sua casa. Quanto às sobremesas e digestivos, ele mesmo os serviria.

Os convidados teceram elogios aos pratos culinários de D. Eunice e despediram-se da senhora com toda a simpatia.

Enquanto o jantar decorreu, para além de comentários apreciativos sobre gastronomia em geral e sobre certos pratos em particular, o grupo abordou os mais variados temas e as conversas fluíram animadamente. Entre todos não se fazia excepção, quanto a elementos masculinos e femininos ou quanto a alunos e professor. Entendiam-se na perfeição e viviam momentos de plena descontracção.

Lena esqueceu-se que estava em casa de Sérgio e o próprio professor mostrou-se tão à vontade, culto e refinado que a rapariga deu por si a admirá-lo!

Magda embevecida perdia-se em eloquentes elogios ou em olhares demorados e tentadores. O professor não escondia o seu agrado pela atracção que exercia sobre a jovem e alimentava-a, a cada oportunidade.

-Magda sabe que o seu nome… é uma variação e um diminutivo de Madalena.

-Sim… e qual aprecia mais? – Perguntou a rapariga com encantado interesse.

-Sabe… gosto de Magda. – Retrucou Sérgio, enquanto levava, mais uma vez, o copo aos lábios. - Madalena torna-se demasiado extenso e rebuscado. – Acrescentou. E pelo vidro do copo lançou a Lena um olhar irónico.

-Porque Magdalena significa “Cidade das Torres”, certamente um local fechado e inacessível. – Objectou Pedro Dias que acompanhava a conversa.

-Fechado pode ser, porque se há torres, há muralhas mas…inacessível depende da estratégia que se utilizar. Nada é impenetrável, meu caro. – Acrescentou Sérgio, continuando no mesmo tom zombeteiro.

Maria Madalena sabia que aquelas indirectas eram para si e estava a começar a irritar-se por não responder à letra.

-Mas professor…posso certificar-lhe que, lá por o meu nome ser um diminutivo, eu sou uma grande mulher. – Arriscou Magda, em tom de brincadeira.

-Ó Lena, esta tua prima, saiu-nos melhor que a encomenda. – Afiançou Pedro Dias, dirigindo-se a Maria Madalena.

A rapariga sorriu e mostrou a mesma atitude desinteressada.

-Eu conheço quem tenha um nome pleno mas um carácter vazio. Quem seja notável de nome e diminuta de atitude. Quem tenha um nome altivo e uma débil personalidade. – Teceu o professor como se estivesse a apresentar uma tese.

Maria Madalena respirou fundo e Mónica apercebeu-se que o balão estava prestes a rebentar.

-Por essa ordem de ideias, se o significado de Magda é “Torre”, então eu represento a segurança, a solidez e a firmeza; - Evidenciou-se Magda no mesmo tom de gracejo.

-Desculpa se vamos falar de solidez e de firmeza, apresento-me eu: aquele que é firme como uma rocha: Pedro-Pedra, Pedra-Rochedo; - Afiançou Pedro Dias, levantando-se e fazendo uma vénia.

-Outro dia, eu e a Sara, consultámos um livro sobre o significado dos nomes. Adília significava “a de família nobre” e Sara “a princesa”, por isso meus amigos não se metam connosco. – Disse Adília soltando a sua risada.

-Então Mónica falta saber quem és tu? – Perguntou Sara à amiga do lado.

-Não ligo a isso. O que pode significar Mónica? – Lançou a rapariga sem grande expectativa.

-Pois saiba que Mónica é um nome de origem francesa e significa “a conselheira”. – Assegurou o professor.

-E é mesmo. – Confirmou Pedro Dias. - Essa com os conselhos, com a definição de tarefas e com “o tudo certinho e direitinho…” até abusa!

-Vê lá não te caia um dente com as gracinhas. – Ameaçou Mónica.

Maria Madalena olhou a amiga e viu nela, uma “real conselheira”, talvez até uma “guia espiritual”. – Sorriu-se.

-E tu Lena? O que significa o teu nome? – Perguntou Magda desafiante.

-Depende da inteligência que se tem para o analisar. – Respondeu a rapariga secamente.

-Então…vamos fazer um jogo. – Propôs Sérgio. – “Lena”, já todos sabemos que é um diminutivo, portanto, não vale. Mas analisemos Maria. O que propões Pedro?

-A arrependida. – Disse o rapaz, já bastante extrovertido, à conta do vinho branco.

-Boa. Serve na perfeição. - Assegurou o professor, visivelmente satisfeito.

-Mãe de Jesus. – Lançou Sara.

-Ok! – Registou o Professor.

-A Senhora…Nossa Senhora. – Atrapalhou-se Adília.

-Agora a Mónica… qual é o seu palpite? – Perguntou Sérgio com curiosidade.

A rapariga demorou a responder. Depois ditou:

-Não é um palpite, é uma certeza. A eleita!

-Bem, bem, isto está-se a compor. E que dirá Lena sobre o seu primeiro nome? – Sérgio fixou-a intensamente.

-Desculpem que lhes diga mas este é um jogo parvo. – Respondeu a rapariga sem paciência.

-Então Lena! Hoje estás de mau humor…que seca! – Refilou Pedro Dias.

A rapariga respirou fundo e adoptou uma postura de desafio.

-Pois fiquem sabendo e para arrumar a história de uma vez: Maria significa “a mulher que ocupa o primeiro lugar” e Madalena é por integral, não a torre como Magda se intitula, mas sim “a que vive na Torre”. Juntando tudo dá o poderoso nome de Maria Madalena - A Magnífica, aquela que vive na torre e ocupa o primeiro lugar!

Ouviu-se uma gargalhada quase geral. Depois o professor adoptou uma atitude mais séria e alvitrou, olhando-a no fundo dos olhos:

-Mas reconheça…que pode ter também outras conotações.

-Como por exemplo? – Desafiou Maria Madalena.

-A prostituta…-Avançou Pedro Dias, visivelmente descontrolado.

-Estás a ficar bêbado… - Aborreceu-se Mónica.

-É pá…desculpem, mas não é isso que diz na Bíblia.

-Bem…de facto fala-se numa rameira que seguia Jesus. – Acautelou Adília.

-E que foi sua amante…ou coisa assim. -Acrescentou Sara.

-E que depois passou a ser sua mulher…e tudo se resolveu. – Rematou Sérgio com sarcasmo.

Maria Madalena fulminou-o com o olhar.

-Falta apenas indicar uma das facetas mais poderosas de Maria Madalena: a de Santa! – Quis assegurar Mónica com autoridade.

-Sim…podemos terminar o jogo com essa virtude, embora se trate de um privilégio concedido pelo céu e negado pela terra.

-Mas só é canonizado quem dá mostras na terra de virtudes sagradas. – Insistiu Mónica.

-E em que circunstância se atinge o expoente máximo dessas virtudes sagradas? – Continuou Sérgio a gracejar.

-Quando a conduta de alguém as merecer. – Respondeu Mónica com afinco.

-E quem as avalia? – Insistiu o professor.

Lena impaciente, objectou:

-Esquece Mónica, aqui ninguém tem categoria para se santificar.

-É mesmo… não passamos de um bando de demónios! – Balbuciou Pedro Dias.

-Olha fala por ti, ó filho de belzebu…-Disse Adília sacudindo Pedro Dias.

O rapaz desatou a rir sem força no corpo e Sérgio levantou-se com desenvoltura.

-Vou servir as sobremesas. E já que estamos em matéria sagrada: “Barrigas de Freira” e “Toucinho-do-Céu”.

Voltou a eclodir outra risada quase geral. Aqui Lena esboçou um sorriso e Mónica alegrou o semblante.

Sérgio voltou com duas travessas que colocou sobre a mesa e acrescentou:

-Para os que não apreciem doçaria conventual, há no frigorífico, vários sabores de gelado.

-E a água benta, professor? – Quase gritou Pedro Dias.

-Não tenho! – Garantiu Sérgio. – Mas no bar, ao canto da sala, estão os licores mais divinais: “Licor de Mel”, “Licor de Romã”, “Licor de Cacau”, “Frangelico” e o sempre apetecido “Baileys - creme de Whisky”;

-Isso é para as meninas. Eu aprecio sabores mais viris: uma boa aguardente velha, um puro whisky de malte, uma vodka absolut.

-Sim…tudo muito viril e quanto tempo te deixam em pé? – Alertou Adília.

-Toda a noite. Todo de pé e…tudo em pé! – Pedro continuava a doidivar, enquanto se levantava com a intenção de se dirigir ao bar.

Ao desequilíbrio notório de Pedro, Adília obrigou-o a sentar-se. Depois olhou para Mónica e Lena e sussurrou entre dentes:

-Este já não está capaz de conduzir!

-Eu mesma conduzirei a carrinha. – Garantiu Lena.

Entretanto Pedro dava sinais de alguma indisposição e Sérgio interveio, aconselhando-o a deitar-se um pouco no quarto ao lado.

-Não…vale a pena. Já estou fino. Comi demais! Se beber um bom digestivo vai tudo ao lugar. – E o rapaz fez nova tentativa para se dirigir ao bar.

Ao levantar-se, acusou uma certa tonteira, levou as mãos ao estômago e o seu rosto empalideceu.

Sara gritou:

-Cuidado que ele vai vomi…

Sérgio, mesmo atrás, segurou o rapaz e levando-o pelo corredor, encaminhou-o para a casa de banho.

Quando o professor voltou, Lena e Mónica já estavam no meio da sala, preparadas para sair.

-Estamos de saída e levaremos o Pedro connosco. – Justificou-se Maria Madalena.

-Mas ainda é tão cedo. Nem terminámos o jantar! – Rogava o homem com evidente decepção. – Pedro poderá descansar um pouco e em breve estará fino.

-Eu própria estou um pouco indisposta…vamos Mónica? – Decidiu Maria Madalena.

-Não vão ainda. Podíamos terminar a noite a dançar um pouco. – Insistiu Adília.

-Nós não! – Garantiu Lena.

Sara dirigiu-se à sala de banho, ao fundo do corredor e bateu.

-Pedro estás bem.

-Siiiim… - Respondeu o rapaz com uma certa dificuldade. – Vou já.

-A Lena e a Mónica estão à tua espera!

-Para quê? – Ouviu-se balbuciar.

-Para regressarem a casa.

O rapaz já não respondeu mas ao fim de algum tempo apareceu, muito branco, à porta da sala de banho.

-Não consigo manter-me em pé.

-Que te disse eu… meu doido. – Adília chegava para azucrinar.

-Calma…- Disse Sérgio. – Deixem-no descansar.

Adília e o professor encaminharam o rapaz para um quarto nas traseiras e deitaram-no sobre a cama.

As restantes raparigas seguiram-nos.

-Vou fazer um café bem forte. – Disse Sérgio. - É melhor que ele durma cá hoje. Maria Madalena ajude-me!

Lena agiu por impulso e seguiu Sérgio, pelo corredor, até à cozinha.

O homem pegou em duas cápsulas de café e colocou-as na máquina.

-Terá que ser a dobrar! – Riu-se baixinho. – E sem açúcar.

Lena apercebeu-se que não havia tarefas para ela e interrogou Sérgio com o olhar.

-Já viu o meu quarto Lena? – Perguntou o homem lançando-lhe um olhar provocador. Possuí uma espaçosa cama de casal!

Lena voltou costas de imediato e preparou-se para sair da cozinha. Sérgio deu um passo rápido e alcançou-a.

-Porque está tão espantadiça? Desconhece o dono? – Ironizou Sérgio enquanto a segurava pelo pulso.

-Professor… faça o favor de me soltar, ou começo a gritar! – Ameaçou Lena.

O homem deixou de apertar e passou a acariciar o braço despido da rapariga.

-Peço desculpa. – Baixou a vista, como que envergonhado. - A sua beleza atormenta-me…

Lena não disse nada e começou a caminhar. Sérgio seguiu-a com a chávena de café na mão, para sussurrar quando a alcançou:

-Maria Madalena gostaria que me perdoasse e houvesse para nós uma segunda oportunidade…

Magda surgiu ao fundo do corredor.

-Pedro adormeceu como uma pedra. – Disse.

-Então já não tomará o café que Lena preparou com todo o requinte. – Respondeu Sérgio a justificar a demora.

-Minha prima é muito prendada. – Exclamou Magda no mesmo tom zombeteiro que tinha adoptado desde a chegada à casa. – Dará uma excelente dona de casa quando casar com o meu primo!

Lena estava prestes a explodir.

-Mónica está na nossa hora.

-Sim… - Confirmou a amiga.

As raparigas deixaram o quarto dispostas a partirem.

Sérgio voltou em seu alcance:

-Porque não ficam mais um pouco ou melhor, porque não pernoitam todos em minha casa em vez de separar o grupo e correrem o risco de passarem a noite sozinhas no apartamento!

Lena olhou para Mónica. O mais normal seria nenhum dos outros regressar a casa. – Pensou.

Sara e Adília, aproximaram-se e também elas solicitaram às raparigas para ficarem porque a noite ainda mal tinha começado.

-Se ficar não saio. – Disse Mónica, que lá no seu íntimo não lhe agradava fazer a viagem de regresso a Albufeira, só com Lena por companhia e chegadas lá, estacionarem a carrinha no parque e fazerem o resto do trajecto a pé até ao apartamento.

-Eu também não. Além de que hoje me sinto bastante cansada. – Confirmou Lena.

-Então não saiam mas eu e a Sara não queremos perder a oportunidade de conhecer alguns bares na zona da marina! – Garantiu Adília.

Magda aproximou-se e mostrou a sua intenção de as acompanhar.

-Eu mesmo as levarei. Agora vou mostrar a todas as meninas, os quartos que podem ocupar. – Assegurou o professor muito animado. – Façam o favor de subir as escadas ou melhor, desta vez vou ser indelicado e eu mesmo seguirei na frente.

Lena resignou-se. Até porque ela própria, tal como Mónica, estavam aliviadas por não ter de regressar sem companhia.

Ao cimo das escadas, depois de um espaçoso átrio, ficavam três portas que correspondiam a dois quartos e a uma sala de banho. Um deles possuía duas camas individuais e Sérgio indicou-o a Lena e Mónica, o outro mais espaçoso, possuía uma cama de casal e um cómodo sofá e destinou-o às restantes três raparigas.

Mónica e Lena já não desceram e deitaram-se logo depois de ouvirem o jeep de Sérgio arrancar com as três raparigas para explorarem os bares e discotecas de Vilamoura.

No quarto das traseiras, Pedro continuava a ressonar.

Mónica não demorou a adormecer. Maria Madalena, no entanto, teimava em dar voltas na cama a relembrar alguns dos momentos mais fortes da noite. Sentia sobre si o olhar de Sérgio e adivinhava-lhe os desejos, mesmo quando ele insistia em disfarçá-los dispensando atenção a Magda. Não podia negar que tinha ficado sensibilizada quando ele lhe pediu perdão e quase mendigou outra oportunidade. Ver um homem assim, adulto e másculo, subjugando-se à sua atenção não deixava de a empolgar. Mas Sérgio mudava de postura e de vontades muito rapidamente e Lena nunca sabia com o que podia contar! Depois veio-lhe à mente a sua condição de mulher comprometida e a necessidade de zelar pela protecção da sua honra! O melhor era adormecer rapidamente e para tal, ajeitou-se na cama, em busca de uma cómoda posição e fechou os olhos com força.

-Maalta! Ei…maaalta. Onde está toda a gente?

Maria Madalena deu um pulo da cama. Pedro andava à deriva no rés-do-chão, gritando pelo pessoal. Apeou-se e enfiou, às pressas, o vestido e mesmo descalça, saiu do quarto. Fechou a porta com cuidado para garantir o sossego de Mónica até porque Pedro, no rés-do-chão, parecia estar a arrastar os móveis e a partir a louça.

-Estou sozinho! Que diabo…para onde foram todos?

Maria Madalena chegou às escadas e acendeu a luz.

Pedro assustou-se e correu para a lareira da sala, pegando no atiçador:

-Quem está aí…!? – Berrou.

-Calma sou eu…a Lena. – Disse a rapariga enquanto descia as escadas com cuidado.

O rapaz descansou e atirou-se para cima do sofá.

-Oh amiga! Ainda bem que estás aí. Julguei que me tivessem abandonado. - Proferiu o rapaz com desalento.

Lena chegou junto dele e acalmou-o:

-Então não te recordas que bebeste demais e tiveste que descansar mais cedo?

-É…parece que sim. Sinto-me nauseado e com a cabeça à roda.

-Devias regressar à cama e voltar a adormecer. – Disse a rapariga sentando-se junto dele.

-Tive um pesadelo…-Sussurrou o rapaz esfregando os olhos.

-Bebida a mais, meu caro! – Riu-se Lena.

-Foi um estranho pesadelo, com o professor Sérgio…

-Não é de estranhar, estamos em casa dele! – Retorquiu Lena.

-Ele transformava-se num lobo e corria atrás de uma mulher vestida de branco!

Lena não pode deixar de rir com gosto, perante o aspecto assustado de Pedro.

-Pareces um bebé que precisa da mãe. – Disse.

-Só cá estamos nós? – Perguntou Pedro, olhando em várias direcções da casa.

-Eu, tu e Mónica que dorme como uma anjinha no quarto de cima.

-Tenho que beber água. – Referiu Pedro.

-Vai até à cozinha. Anda que eu acompanho-te. – Assegurou Lena.

Atravessaram a sala, seguiram o corredor e entraram na cozinha. Lena abriu o frigorífico e tirou o jarro da água fresca. Encheu o copo e estendeu-o a Pedro.

Quando o rapaz terminou, Lena voltou a aconselhá-lo a deitar-se.

-Acompanhas-me? – Perguntou Pedro, já mais animado.

-Para ver se não há monstros? – Riu-se.

-Sim. Para isso e para me contares uma história antes de adormecer!

-Qual preferes? – Disse Lena a brincar com a situação.

-Uma que tenha raparigas bonitas em poses indecentes! – Respondeu Pedro a doidivar.

-Vejo que já estás a recuperar. Entra e deita-te meu maluco, que eu também quero ir descansar.

-Vou dormir de luz acesa.

-Mariquinhas. – Murmurou Lena com um sorriso enquanto fechava a porta do quarto e regressava, corredor adiante, até à cozinha. Ali, fez um café. Com a chávena na mão veio deambulando até ao hall e entrou na sala. Sentou-se comodamente num dos maples, ligou a TV e bebericou o café com toda a calma. Entreteve-se com o filme que apanhou a meio e quando este terminou, decidiu-se por fim a regressar ao quarto. Foi colocar a chávena no lava-louças e aproveitou para escutar sorrateiramente junto à porta do quarto de Pedro, onde achou tudo muito sossegado. Regressou corredor adiante e viu-se no hall disposta a subir as escadas de acesso ao primeiro andar. Uma grande parte da ala da frente da vivenda era ocupada pela sala de estar e pela sala de refeições que se separavam apenas por um delicado arco. Saindo da sala, um espaçoso hall, fazia a comunicação para as restantes divisões. Para cima estendia-se a bela escadaria de mármore branco e corrimão de madeira polida e sob o seu vão, desenvolvia-se o extenso corredor que dava acesso à parte traseira da habitação onde ficava a cozinha e várias outras dependências, inclusive o quarto que Pedro agora ocupava. Para a sua esquerda uma extraordinária porta envidraçada dava acesso directo a uma pequena saleta de espera que comunicava com a porta de entrada e em frente surgiam, quase lado a lado, duas portas fechadas. Lena olhou-as de soslaio! Tinha a certeza que uma delas era a do quarto de Sérgio e martelavam-lhe na cabeça, as suas palavras: “Já viu o meu quarto Lena. Possuí uma espaçosa cama de casal…!”

O primeiro impulso que sentiu foi afastar-se de imediato, regressar ao quarto, aconchegar-se na cama, fechar os olhos e dormir. Mas a curiosidade, aquele terrível bichinho que nos inquieta e impulsiona! Fixou uma das portas, qual delas deveria experimentar abrir? A da direita ou a da esquerda?

A casa estava agora numa quietude total.

Deitou a mão direita ao puxador da porta da esquerda e rodou.

Sem qualquer ruído o puxador cedeu e a porta abriu-se. A própria claridade do átrio permitiu-lhe lançar um primeiro olhar de relance.

Não se tratava de um quarto mas de uma outra sala de estar. Certamente reservada!

Acendeu a luz e entrou. Todo o espaço estava decorado da mesma forma que o apartamento de Évora. Podia até quase jurar que se tratavam dos mesmos objectos e móveis. Os sofás brancos imaculados, a mesa de vidro, as duas taças de cristal…o castiçal de ferro com oito velas de cheiro! Demasiadas coincidências que deixaram Lena incomodada! Em cada recanto a presença de Sérgio. Fotos do homem em poses formais mas também em apresentações mais descontraídas. Sobre os móveis diversos objectos pessoais e no bengaleiro dois casacos. Na escrivaninha o computador, vários apontamentos e livros. Na parede central uma interessante pintura de uma cena à beira-mar e ao canto direito, uma outra porta. Esta provavelmente estaria encerrada. Experimentou e não estava. Ali sim…era o quarto de Sérgio!

Então o homem dispunha em sua própria casa de uma toca reservada. Curioso!

Entrou. O quarto era extremamente espaçoso, quase tão grande como a sala de estar. Apresentava excelentes móveis de linhas direitas de um cinzento cromado onde, efectivamente, se destacava a extraordinária cama de casal, soberbamente decorada em tons vermelho cereja e preto. Também as cortinas e os tapetes alternavam num e noutro tom. Na zona norte, ocupando um recanto que retirava espaço à saleta, desenvolvia-se uma elegante casa de banho, onde a banheira redonda de hidromassagens era uma verdadeira preciosidade.

Maria Madalena deambulou pelo espaço. Alguns objectos de muito bom gosto adornavam uma espaçosa cómoda. Abriu a primeira gaveta e deparou-se com uma colecção de gravatas, alguns lenços e cachecóis. Noutra, roupa interior e meias. Depois T-Shirts e calções. Espiou então o amplo roupeiro. Várias camisas, calças e casacos, encontravam-se lá, esmeradamente arrumados. Passou então o olhar de relance sobre a restante área, móveis e objectos do quarto. Sobre as duas mesas-de-cabeceira, dois candeeiros iguais e na da esquerda mais uma foto de Sérgio esboçando um sorriso trocista. Junto dela expunha-se também um gracioso guarda-jóias. Lena deu alguns passos, pegou-lhe e abriu-o.

Sobre minúscula almofada de veludo vermelho cereja, debruada a preto, brilhou o malfadado anel de noivado!

A rapariga transtornou-se e sentiu uma violenta ira. Cerrou com brutalidade o pequeno guarda-jóias atirando-o para o mesmo lugar. Fixou o sorriso trocista de Sérgio e fez tombar com fúria a sua foto sobre a mesa. Depois respirou fundo, acalmou e deu alguns passos em marcha atrás…

Os braços fortes de Sérgio rodearam-lhe a cintura, apertando-a contra ele. O rosto do homem inclinou-se e os seus lábios quentes beijaram-lhe o pescoço.

-Eu sabia que a encontraria aqui…-sussurrou mesmo junto à sua orelha esquerda.

O primeiro impulso, passado o sobressalto, foi empurrar o corpo do homem e libertar-se da prisão dos seus braços.

-Calma… - aconselhou o homem, enquanto ele próprio aliviava a pressão. – Nada farei contra a sua vontade. - Rodou-lhe o corpo e fixou-a de frente. O seu olhar de adoração invadiu-a até ao mais íntimo do seu ser. A rapariga sentiu-se aconchegada!

O homem aproveitou a abertura e voltou a estreitar o abraço, colando-se novamente a ela.

Maria Madalena sabia que um beijo de Sérgio estava eminente por isso baixou o rosto quanto pode, de forma a evitá-lo. O homem desiludido afrouxou o impulso e afastou-a:

-Está livre! – Disse com uma certa ironia. – Longe de mim mendigar amores.

A rapariga permaneceu calada. O homem inspeccionou o quarto e dirigiu-se à mesa-de-cabeceira:

-Vejo que teve oportunidade de encontrar o que é seu. Só se acha o que se procura! O mesmo fez você comigo. Ofereceu-se e agora nega-se!

Sérgio falava num tom calmo e mostrava um semblante sereno. Esboçava até um ligeiro sorriso de cordialidade.

Lena sentiu-se um pouco mais à vontade.

-Bebemos qualquer coisa? – Perguntou o homem, enquanto mostrava interesse em passar à saleta contígua.

A rapariga fez um gesto de consentimento e seguiu-o.

O homem procurou num “mini-Frigor”, uma garrafa de espumante e abriu-a. Depois encheu as duas taças que se encontravam sobre a mesa, entregando uma à rapariga.

-E as meninas? – Perguntou Lena, enquanto experimentava o espumante.

-Ficaram bem entregues. – O homem respondeu, sentando-se de frente para ela.

Maria Madalena preferia que Sérgio não a fixasse tão intensamente.

-Porque voltou? – Inquiriu a rapariga, sem olhar directamente para ele.

-Senti saudades.

Lena esboçou um sorriso e Sérgio levantou-se devagar, aproximando-se dela.

-Posso? – Perguntou, indicando o lugar vazio.

Lena não respondeu mas aconchegou-se mais no sofá branco de dois lugares.

O homem atirou o seu corpo másculo, primorosamente vestido, sobre a fofura do assento. Em breves segundos, rodeou os ombros da rapariga com o seu braço e os dedos grandes e macios começaram a acariciar-lhe o pele desnudada.

Maria Madalena sabia que Sérgio continuava a seduzi-la e tinha que ficar alerta para que não cedesse.

O rosto de Sérgio aproximou-se do dela e os seus lábios pousaram, ao de leve, sobre os seus cabelos.

-Cheira divinamente. – Sussurrou o homem.

Lena contraiu-se e mostrou-se incomodada. Sérgio já se encontrava novamente, demasiado perto.

O homem apercebeu-se e mais uma vez, afastou-se ligeiramente. Depois pegou-lhe na mão e beijou-a suavemente:

-Lena…queres namorar comigo?

A rapariga não pode deixar de o fixar frontalmente:

-Que diz? – Perguntou, surpresa.

-Que deveríamos começar tudo de novo. Sem precipitações, sem confusões, sem imposições. Apenas namorar, cortejar, embevecermo-nos…

Lena riu-se interiormente, para depois abanar a cabeça e responder:

-Julgo ser, demasiado tarde, já nos conhecemos muito bem.

-Ainda posso surpreendê-la!

-Em surpreender-me é o Sérgio… um mestre!

-Surpresas muito boas, garanto-lhe.

-Tais como…Anéis de Noivado?

-Juro-lhe que só quando a minha dama o quiser…

A rapariga fez um movimento de descrédito e colocou-se em pé.

-Demasiado tarde…as horas, digo!

O homem olhou o relógio.

-Fiquei de ir buscar as meninas às 3 da manhã…tenho ainda todo o tempo do mundo.

-Eu vou ver da Mónica. Pode acordar e estranhar a minha ausência.

-E tem receio que ela saiba?

-Ela sabe! – Garantiu a rapariga.

-Então só falta a sua bênção…eu mesmo cuidarei disso.

-É a minha vontade que conta, não o seu interesse nem o aval dos outros.

-E os seus desejos, quais são?

-Em relação ao senhor não tenho quaisquer anseios, como já o informei a minha vida real vai para além desta ilusão.

-É boa a sua vida real? – Perguntou o homem com uma certa ironia.

-Contento-me.

-Lamento constatar a sua fraqueza!

-Fragilidade é uma característica que combato muito bem…sou dura de roer!

-O que a torna ainda mais atraente. Tudo em si me desperta loucura!

-Então controle-se o senhor, pois denota fraqueza em relação a mim.

-E que me importa. Para a ter, serei capaz de me rastejar aos seus pés, arrastar-me na lama, comer o pó dos caminhos…

-Não será necessário. – Garantiu Lena, enquanto se encaminhava para a saída.

O homem nada fez para a impedir mas a sua voz soou rouca e sensual.

-Faltam cinco para a meia-noite…dou-lhe esses 300 segundos!

-Lena soltou uma risada abafada e abriu a porta.

-Adeus professor. Eu e você… não temos retorno!

-Saberei esperar! – Disse-lhe o homem com sensualidade.

A rapariga nem se dignou a olhar para trás. Fechou a porta com segurança e viu-se no hall, disposta a subir as escadas.

Não sabia porquê mas invadiu-a um certo sentimento de perca. Não demoraria que o homem a esquecesse e dirigisse a sua atenção para outra qualquer mulher. Daquela relação apenas ficaria a doçura de alguns momentos e a contrariedade de muitos outros. Mesmo assim não sabia se o saldo era positivo ou negativo. Numa outra situação não abandonaria a envolvência de Sérgio, deixar-se-ia adular, idolatrar e permaneceria. Agora era preferível não cair em tentação e seguir pela direita razão.

Quando se preparava para subir as escadas, estranhou sobre o móvel que adornava a parede que ficava entre as duas portas, um gracioso ramo de flores, de espécies, cores e perfumes variados. Encostado ao bouquet, um pequeno envelope com o seu nome escrito.

Mais um truque de Sérgio. - Pensou.

Abriu-o com um ligeiro sorriso nos lábios:

Perdão… sou um homem. Confundo amor com prazer! Juro redimir-me. Guie-me, ensine-me, leve-me por bons caminhos.

Peço só mais uma oportunidade e vai ver que não se arrependerá. Sou um homem novo, nada lhe exigirei que não queira dar, nada lhe imporei que não deseje, nada lhe ordenarei que a contrarie. Venha, fique, ame-me…”

Lena retrocedeu, iria agradecer as flores e mais uma vez garantir a sua indisponibilidade. Experimentou então a porta da direita! Já agora gostaria de ser ela a surpreender Sérgio. Rodou o puxador e este cedeu. Tentou então empurrar a porta com cautela. Pressionou-se sobre ela mas esta não deu de si. Cerrada, vedada, inacessível, era como se encontrava. Voltou à porta anterior. Abriu-a, flanqueou-a e ficou na saleta. Sérgio não se encontrava onde o tinha deixado e a porta do quarto encontrava-se fechada. A rapariga deu alguns passos, rodou o puxador e a porta abriu-se.

Sérgio, qual estátua grega, mostrava na sua nudez total a exuberância da sua virilidade! Sobre o leito mesclado de grená e preto, o corpo másculo do homem predominava. Pendente dos seus longos dedos, oferecia-lhe um finíssimo conjunto de langerie, feminino, branco suave!

Maria Madalena viu-se na toca do lobo. Um lobo sofisticado, sem qualquer dúvida, mas não deixava de ser um predador.

Ao movimento de retrocesso da rapariga o homem saltou do leito e precipitou-se sobre ela!

-Terminou o tempo. – Disse. Segurando-a violentamente num dos braços.