Atalaia 4 - [capitulo 12]
A rapariga assustou-se e debateu-se, atirando com as flores contra o rosto masculino. Este, ferido no seu orgulho, reagiu apertando-a com força contra ele. Sobre o vestido fino da rapariga as formas desnudadas do homem, moldavam-se às suas, procurando encaixar-se em lugar prazenteiro.
Sérgio aprisionava-a no seu enlace pleno e arrastava-a consigo em direcção à cama. Apenas as pernas, ainda que sem forças e o rosto se mantinham a salvo mas já o homem se apercebera e passara a beijá-la sofregamente. Os dentes afiados de Lena aproveitaram a proximidade e cravaram-se afincadamente no lábio inferior do homem. A dor retraiu-o por alguns segundos mas depressa se recompôs e redobrou a sua força sobre a rapariga, empurrando-a de uma vez para cima da cama. Quando se debruçou sobre ela e a olhou intensamente no fundo dos olhos, a sua bestialidade pareceu enfraquecer e a pressão deu lugar a demoradas carícias.
Maria Madalena sentia sobre si o peso do homem e os afagos excitantes que ele lhe fazia, pensava em gritar mas que ridículo seria acordar a casa toda e ver-se censurada pelos amigos.
-Sérgio…-Sussurrou-lhe ao ouvido.
O homem abrandou a sua avidez e ficou alerta.
-estás a quebrar as tuas promessas! – Acrescentou sorrateiramente.
De imediato o homem se retraiu e aliviou a pressão.
Lena voltou a falar-lhe baixinho:
-assim nunca mais poderei confiar em ti.
A racionalidade do homem deu razões de si e ele ficou estático sobre a rapariga.
-Juraste a que nada me obrigarias! – Voltou Lena a sussurrar enquanto era ela agora que, segurando-lhe o rosto, o procurava fixar lá bem no fundo do seu negro olhar.
-Não me queres? – Perguntou Sérgio com amabilidade.
-Acho que…deveríamos ter em conta a tua própria proposta. Retrair agora a irracionalidade física e promover a verdade dos sentimentos.
O homem foi abandonando aos poucos o corpo da rapariga e ficou sentado sobre a cama.
A sua voz soou com desalento:
-Sou uma besta! Não mereço a tua dádiva…
Lena, aproveitando a aparente debilidade do homem, colocou-se de imediato em pé. Ajeitou o vestido e passou várias vezes as mãos pelos cabelos.
Sérgio segurou-lhe a mão com afectividade:
-Não me abandones, preciso de ti…sou adulto mas tenho alma de menino. Vejo em ti a minha própria salvação!
A rapariga sentiu que Sérgio estava à sua mercê e que colocava sobre os seus ombros mais uma inglória tarefa.
-Estou aqui! – Garantiu para o tranquilizar.
-Posso contar contigo? – Mendigou o homem, para depois acrescentar mostrando honradez: - Amizade. Dá-me a tua amizade e até que os nossos corações se encontrem, jamais te pressionarei!
Maria Madalena estava a ficar enjoada de tanta lamechice e desejava que aquele desditoso encontro terminasse. Para que tal acontecesse estava até disposta a garantir fosse o que fosse!
-Estou disponível para aceitar que a nossa relação floresça com base na amizade, na partilha e na compreensão mútua.
-Eu também. – Garantiu o homem com reconhecimento. Convido-te para amanhã passearmos juntos à beira-mar.
-É… um passeio ao entardecer, pode ser um bom começo. Até amanhã Sérgio. – E a rapariga beijou, ao de leve, o rosto do homem.
-Sonhai com todas as cores do arco-íris…minha adorada! – Lançou o homem em jeito de despedida ainda que, em toda a sua nudez, a rigidez dos seus músculos mostrasse uma contenção desesperante!
Maria Madalena foi-se afastando aos poucos e quando alcançou a porta do quarto, acenou em jeito de despedida.
Os olhos negros de Sérgio, continuaram a persegui-la e a penetrá-la até à mais ínfima essência do seu ser!
Maria Madalena fechou atrás de si todas as portas que a sua curiosidade tinha aberto e subiu as escadas, entrando no quarto. Deu duas voltas à chave na fechadura e preparou-se para adormecer em paz!
-Empenhaste mais uma vez a alma e um dia vais vendê-la… – A voz da sua consciência fez-se ouvir vinda da cama ao lado.
-Mónica não me azucrines! – Ameaçou Maria Madalena, enquanto apagava a luz e se deitava.
-Promessas, juras, comprometimentos…que vida! – Proferiu a amiga com enfado.
-Cala-te! Quero dormir. – Fez soar Lena com brusquidão.
-E amanhã… quando chegar o entardecer, como pagarás?
Maria Madalena já não respondeu.
-És uma inconsequente. Porque não entraste na porta da direita?
-Porque estava encerrada! – Quase gritou Lena sem se conter!
-Tu própria tens a chave!
-Mónica…desculpa, mas não estou para joguinhos e não me apetece aturar o teu azedume e as tuas lições de moral.
Levantou-se e mudou de quarto. Quando as raparigas regressassem, faria Magda, dormir com Mónica.
Enroscou-se no sofá e ainda que sobressaltada, acabou por adormecer.
Os ruídos destabilizadores das jovens vieram despertá-la daquela letargia. Apercebeu-se de imediato que tinha trancado a porta á chave e por isso, correu a abri-la.
Sara e Adília vinham tão alegres que julgaram ter-se enganado no quarto. Lena sossegou-as.
-Optei pelo vosso sofá, pois tive dificuldades em adormecer e estava a incomodar a Mónica.
-Então e agora? – Perguntou Adília, soltando uma sonora gargalhada.
-Eu permaneço no sofá e Magda pode dormir na cama que me estava destinada! – Respondeu Maria Madalena, regressando ao seu lugar.
-Essa é boa… perdemo-la! – Exclamou Sara, atirando-se para cima da cama.
-Quem? – Perguntou Maria Madalena embora já se sentisse inquieta pois não via Magda em parte alguma!
-A tua priminha…é má bicha! – Ainda acrescentou Adília, enquanto se dirigia para a sala de banho que o próprio quarto tinha em anexo.
-Onde está a Magda? – Perguntou Lena, dirigindo-se a Sara que quase se apagava sobre a cama.
-Ficou com o prof. Foram caminhar pela praia sob a luz prateada do luar!
-E a vós, quem vos trouxe?
-Dois excelentes amigos.
-Mas não ficou o professor Sérgio de vos ir buscar?
-Sim e foi. Ai…não me apetece dar mais pormenores. Quero descansar o canastro! – Sentenciou Sara, voltando-se para o lado e tapando a cabeça com a almofada.
Lena avançou para a sala de banho. Bateu.
-Adília…para onde foi a Magda?
-Fugiu! – Respondeu a rapariga com evidente despropósito.
-Vocês estão a ser inconsequentes e eu estou deveras chateada. – Ameaçou Lena, já com um certo receio, por não saber o paradeiro da rapariga que tinha levado à sua guarda.
-Ela regressa. Deixa estar. – Proferiu Adília, ainda do interior da sala de banho, onde ruídos estranhos denotavam a indisposição da jovem.
Lena resolveu sair do quarto e ir ela própria procurar a rapariga. Certamente estaria entretida a exibir-se para Sérgio.
Desceu as escadas, foi ver à sala e depois à cozinha. Ninguém. As portas encerradas dos aposentos de Sérgio ainda lhe inspiravam algum respeito. Não lhe apetecendo nada voltar a pressioná-las.
Mas será que Magda não estava lá dentro! E se estivesse? Que fazia por lá? Envolvia-se com Sérgio!
Se entrasse poderia evitar essa inconsequência. Amiudou primeiro se ouvia ruídos. Apurando a audição apercebeu-se que o som de uma voz feminina, ainda que dissimulada, fazia-se escutar.
Era Magda, só podia ser! Rodou o puxador da porta e esta abriu-se. A saleta privada de Sérgio estava na escuridão total. Ligou a luz e reconheceu sobre a mesa as duas taças de cristal usadas e abandonada meio-cheia, a garrafa do espumante. No bengaleiro apenas um casaco. Sinal que Sérgio tinha saído! Olhou então demoradamente para a porta do quarto, visivelmente encerrada. Num momento de interior reflexão apercebeu-se de que já não chegava até si quaisquer murmúrios de vozes. Caminhou decidida até á porta e abriu-a. O espaço encontrava-se deserto. A cama ainda amassada pelos afagos anteriores em que o seu corpo se viu envolvido e sobre o leito, largado, o conjunto branco de langerie. Não vislumbrava nada que denotasse a presença de Magda naquele lugar. Saiu.
Quando se viu novamente no hall, o som da voz feminina fez-se de novo ouvir. Lena deitou o olhar à porta da direita. Era dali que os rumores soavam!
Aproximou-se e rodou o puxador. Em vão! A porta continuava encerrada.
“Tu própria tens a chave” – recordou-se do comentário de Mónica. Pois bem iria desassossegar a rapariga e fazê-la trocar tudo por miúdos.
Subiu as escadas com desenvoltura e lançou-se num ímpeto quarto adentro.
A cama que Lena antes ocupara, continuava vazia e ao seu lado cama idêntica, não tinha ninguém.
Foi ver na sala de banho, ao fundo das escadas. Não. E no quarto de Sara e Adília? Entrou.
Perfeitamente entregues ao descanso, apenas as duas raparigas se estendiam sobre a cama.
Sala de banho, aberta. Não.
Correu escadas abaixo. Encostou a orelha destra à porta da direita! Continuava a ouvir rumorejar!
Deu mais um empurrão na porta mas esta continuou sem ceder.
Sala, sala de jantar, cozinha, quarto do Pedro. Achou absurdo ir destabilizar o amigo mas mesmo assim, à cautela, lá foi espreitando. Com a luz do corredor acesa, para evitar que a claridade directa o incomodasse, vislumbrou, atirada sobre o leito, a forma individual de Pedro. Nada mais.
Onde se teria enfiado Mónica? E Magda e Sérgio?
Em passo apressado foi colocar-se novamente em frente à misteriosa porta. Encostou-se a ela. Apurou a audição. Escutou atentamente. Aguardou, aguardou e…nada! Nem um sussurro, nem um rumor, nem um murmúrio!
“A casa estava agora numa quietude plena”
A rapariga mostrando evidentes sinais de fadiga, atirou-se sobre o primeiro degrau da escada e aí procurou aquietar.
-Lena…que fazes aí? – A voz de Mónica soou do cimo das escadas.
Maria Madalena retorceu o pescoço e fixou a amiga como se de uma assombração se tratasse.
-Onde tens estado? – Perguntou com aspereza.
-No sótão! O professor Sérgio tem lá montada uma excelente biblioteca.
-O quê? – Estranhou Lena.
-Sim. Ele próprio me indicou o acesso.
-Quero ver! – Assegurou Lena, desconfiando das informações de Mónica.
-Então sobe. – Aconselhou Mónica, esperando por ela no cimo das escadas.
Lena não se fez esperada e galgou as escadas com velocidade.
Mónica que se encontrava no hall, entre as escadas e a casa de banho, deu alguns passos em direcção a um roupeiro de madeira embutido na parede.
-Nestes projetos de construção não é autorizado o aproveitamento de forros, por isso o prof. ocultou a entrada com este roupeiro.
A rapariga fez deslizar a porta e uma nova escadaria, embora mais estreita, desenrolava-se.
-Vamos sobe… atrás de mim!
Seguiram. Dez degraus depois entravam numa espaçosa e cómoda dependência, toda forrada a madeira, desde o tecto às paredes e com chão de corticite. O próprio forro das paredes permitia o encaixe das estantes que estavam carregadas de livros. Num dos cantos uma lareira de tijolo antigo, uma mesa de trabalho e vários instrumentos de pesquisa. Dois cadeirões em pele assentavam sobre um artesanal tapete de Arraiolos e vários outros móveis e objectos de decoração faziam daquele espaço um lugar extraordinário para relaxar, pesquisar e estudar.
-Vês! Foi aqui que estive. Assim que saíste do quarto mal-humorada, acordei, deambulei e lembrei-me de vir ler qualquer coisa.
Atiraram-se as duas sobre os cadeirões vazios.
Foi Maria Madalena quem interrompeu o silêncio que ficou entre elas.
-Mónica estás a ver a porta que fica à mão direita, no hall inferior das escadas?
-Sim. – Disse a rapariga com interesse.
-Está fechada! – Assegurou Lena.
-E daí? Que mal tem? – Perguntou Mónica, desviando o olhar.
-Escutei de lá voz de mulher!
-A sério?
-Sim. Apenas um leve rumorejar, não se percebendo o que dizia. – Garantiu Lena.
-Devem ser as raparigas. Já chegaram certamente, porque a madrugada vai adiantada! – Alvitrou Mónica.
-Sim chegaram e duas já adormeceram. Vinham levemente alcoolizadas.
-Sara e Adília. Estava-se mesmo a ver! – Sorriu-se Mónica.
-Mas da Magda nem sombras. – Comentou Maria Madalena.
-Não chegou ainda?
-Não. Está com o professor. – Adiantou Lena.
-Essa está mortinha e aflitinha. Onde estão? – Incomodou-se Mónica.
-Devem estar no compartimento vedado por aquela porta!
-Daí a voz de mulher?
-Exacto. – Confirmou Lena.
-Não devem lá ficar a noite inteira. – Comentou Mónica.
-Podíamos ir juntas ver se a porta cedia.
-E como cede se está trancada?
-Recordas-te de teres dito que eu própria tinha a chave? – Inquiriu Maria Madalena, fitando a amiga de frente.
-Eu?! Quando?
-Quando regressei ao quarto para me deitar.
Mónica desatou a rir.
-Só podia estar a sonhar! Que posso eu saber dos teus passos perdidos…
-Vês… lá estás tu outra vez com enigmas. – Aborreceu-se Lena, levantando-se. – Vou descer e procurar Magda. Se ela se descontrola e algo de mal lhe acontece quem há-de ouvir as gentes da aldeia. Não me bastava ter de guiar os meus passos, senão ainda os daquela estouvada.
-Vamos juntas… - Consentiu Magda. – Alguma coisa haveremos de descobrir.
Apressaram-se a abandonar o sótão, descendo as escadas num ápice.
Mónica entrou no quarto que ocupava, disposta a agasalhar-se melhor, não houvesse necessidade de terem que sair para o exterior. Embora fosse Verão, o ar marítimo arrefecia as madrugadas.
Maria Madalena aguardou que a amiga ficasse pronta e juntas desceram a escadaria principal. Quando passou junto à porta destra, não resistiu a encostar-lhe o ouvido e voltar a empurrá-la. Mónica auxiliando a amiga, fez o mesmo.
-As minhas ilustres meninas desejam alguma coisa dessa porta?
As raparigas sobressaltaram-se.
Sérgio em pijama leve e roupão aberto mostrava-se, encostado à soleira da porta da sala.
-Stor… - Foi o que Mónica conseguiu dizer mas Maria Madalena, dirigiu-se decididamente para ele.
-Pareceu-me há pouco soarem vozes daqui.
-Vozes? – Estranhou Sérgio.
-Bem…rumores de vozes ou pelo menos voz sussurrante de mulher! – Acrescentou Lena.
-Não me parece. – Desacreditou Sérgio.
Lena lembrou-se então que nada sabia ainda, sobre o paradeiro de Magda.
-E Magda onde está? – Questionou.
O homem pareceu admirado.
-No seu quarto. Pelo menos eu…vi-a subir para se recolher. – Respondeu.
-Mas não chegou com Sara e Adília. – Desafiou Maria Madalena.
-E quem controla essas vossas duas amiguinhas? Eu não… -Assegurou o homem.
-Elas informaram-me que o senhor e Magda mostraram interesse em passear ao luar! Antecipou-se ah… - Disse Maria Madalena entre dentes.
Mónica qual espectadora entediada, retrocedeu e foi sentar-se nas escadas, mirando a misteriosa porta.
Sérgio sorriu para Lena e sussurrou:
-Será que vejo em si…uma leve pontinha de ciúmes?
-Não. Nem uma pequena beliscadura. Agora, se me dá licença, vou confirmar o paradeiro de Magda.
-E amanhã? – Lançou o homem em voz baixa.
-O amanhã já é hoje… - Respondeu a rapariga contrariada.
-E o entardecer? – Sérgio relembrou.
-Para que quer alguém o entardecer quando já teve o luar! – Rematou Lena, virando-lhe as costas.
-Prof…-Chamou Mónica. – Para onde dá esta porta?
-Para a cave! – Respondeu Sérgio com desagrado.
-Vês Lena…coisa simples. – Concluiu Mónica.
Lena não proferiu nem mais uma palavra. Subiu as escadas, entrou no quarto e deparou com Magda enroscada no sofá, perfeitamente adormecida. Regressou ao seu quarto e ocupou a sua anterior cama. Antes que Mónica comentasse algo, ela advertiu:
-Se disseres seja o que for, irrito-me deveras e abandono de imediato esta casa infernal.
A amiga limitou-se a manter-se calada.
Lena voltou a levantar-se e foi trancar à chave a porta do quarto.
Mónica não conseguiu controlar um riso abafado e num rumorejar imperceptível ainda comentou:
-Depois de casa arrombada, trancas na porta!
Já a manhã de Sexta-feira ia adiantada, quando os convidados se preparavam para abandonarem a casa do professor Sérgio. Pedro, Magda, Sara e Adília fizeram questão de fazer companhia a Sérgio num demorado e nutritivo pequeno-almoço, confeccionado e servido pela D. Eunice. Lena e Mónica apenas tomaram café e a cada oportunidade incentivavam os amigos para se apressarem. Sérgio não deixava de lançar demorados olhares sobre Maria Madalena e insistir com a malta para que se voltassem a encontrar à tarde na praia. Maria Madalena apercebia-se do interesse de Sérgio em manter o contacto mas ela já se tinha decidido a não lhe dar nem mais uma oportunidade. Além do mais queria esclarecer algumas coisas com Magda que, até agora, parecia evitá-la!
Dormira pouco e desejava tomar um banho e descansar assim que chegasse ao apartamento. Se tivesse levado o seu carro há muito que teria regressado mas estava dependente de Pedro Dias pois desta vez, seria com ele que toda a gente regressaria.
Depois de mais alguns impasses tudo se parecia consumar para que saíssem de vez e Lena apressou-se a ser das primeiras. Sérgio seguia os seus passos com o olhar e no último minuto acabou por inventar outro estorvo dissimulado, lembrando-se que ainda não tinha mostrado a Pedro a “mota de água” que tinha na garagem! Por lá se demoraram com a conivência das meninas, excepto Mónica e Lena que não acompanharam a comitiva e ficaram a trocar impressões com a D. Eunice.
Finalmente Pedro carregou no comando automático da carrinha e as portas abriram-se para alojar os passageiros.
Quando Lena se viu em sossego dentro do veículo, desejou nunca ter feito aquela visita.
Pedro ao volante e Sérgio com a cabeça ainda debruçada para dentro do carro, procurava agendar novo encontro: hoje, amanhã, Domingo!
A rapariga recusava-se a assimilar. Sentia-se exausta, esgotada, desesperada!
Foi Mónica quem colocou um ponto final naquele marasmo.
-Depois agendamos Stor. Eu estou mesmo muita pressa pois tenho um compromisso às três da tarde.
-Certamente… - Desculpou-se Sérgio. – Sei onde vos encontrar!
-É isso mesmo prof. lá o esperamos. – Confirmou Pedro dias, colocando a carrinha em andamento.
Finalmente puderam seguir viagem.
Chegados a casa, cada um fez o que bem entendeu e Maria Madalena, depois de tomar um banho relaxante, vestiu uma T-shirt fresca e deitou-se. Não deixou primeiro de avisar os amigos que não almoçaria e que a deixassem dormir até ela querer! Para tal cerrou todos os estores, deixando o quarto na penumbra.
Ninguém a incomodou e já a tarde ia adiantada quando começou a dar sinais de si. Na espaçosa suite onde se acomodava com Mónica e Magda, tudo se mantinha numa quietude perfeita. Maria Madalena acordava a pouco e pouco, esfregando os olhos, bocejando e sacudindo a preguiça com movimentados esticões de braços e pernas. Mais uma volta, uma reviravolta e num desses impulsos, sentiu os seus pés tocarem em algo ou alguém que ocupava com ela parte da cama.
-Mónica…, Magda…- Chamou.
Não obteve resposta mas um riso divertido chegou aos seus ouvidos.
A rapariga não deixou de se sentir incomodada e sentou-se imediatamente na cama. Na impossibilidade de vislumbrar fosse o que fosse devido à penumbra do quarto, estendeu a mão disposta a acender a luz. Antes que o conseguisse fazer, sentiu o aperto de uma outra mão, cativar a sua!
Não foi uma pressão incómoda mas sim um doce contacto. Sempre que um único poro da sua pele tinha o privilégio de ser assim acariciado, todo o seu corpo reagia com gratidão. A rapariga estendeu a outra mão e encontrou a maciez dos cabelos e os traços familiares do rosto. Procurou os olhos e tocou-os levemente, depois a face e por fim os lábios. O rapaz beijou-lhe as pontas dos dedos com suavidade e foi deixando a sua mão subir lentamente pelo braço desnudado da rapariga, até a entrelaçar na suavidade dos seus longos cabelos.
-Miguel! Só pode ser um sonho. – Sussurrou Lena, encostando o seu rosto ao dele.
Miguel soltou um riso abafado e depois beliscou com ternura a rapariga.
Esta fingiu um momento de dor e soltou um gritinho sufocado.
-Então já me sentes em carne e osso? – Disse-lhe ao ouvido.
-Nãaaoo. – Brincou Maria Madalena.
-E assim? – Questionou Miguel, enquanto a puxava para junto de si e a estreitava nos braços.
-Também não! – Voltou a reinar a rapariga.
-E assim?
Miguel procurou-lhe os lábios e beijou-os com ternura.
-Pouco… muito pouco. – Conseguiu a rapariga dizer quando o rapaz abrandou a pressão.
-E assim?
Miguel encostou-a sobre a cama e pressionou o seu corpo sobre o dela.
-Assim…Sim! – Confirmou a rapariga num misto de diversão e incontrolado deleite.
-Então…já que mesmo na penumbra total, a minha soberana rainha me reconheceu. Queira dar-me agora o prazer de ver brilharem os seus olhos. – Foi proferindo Miguel, enquanto o seu corpo jovem, sob as roupas de Verão, se desligava aos poucos do físico da rapariga.
Maria Madalena perdeu o contacto com Miguel e receou que ele desaparecesse tal como tinha surgido.
O rapaz abriu os estores das janelas e a claridade inundou o quarto.
-Ó minha preguiçosa…se dormes tanto de dia é porque te passeias de noite!
Maria Madalena nem queria recordar a noite anterior tão cheia de contrariedades. O que lhe interessava agora era aquela graciosa visão. Miguel em todo o seu esplendor, pois a luz viva do sol que entrava agora pela janela fazia irradiar a figura jovem do rapaz, reflectindo nos seus cabelos alourados e aumentando o brilho cintilante dos seus grandes e amendoados olhos castanhos.
Miguel encaminhou-se de novo para a cama e segurando num dos pés de Lena, puxou-a com cuidado para fora do leito.
A rapariga divertiu-se com a determinação do rapaz em a expulsar da cama e decidiu-se a pôr a moleza de lado.
-Veste-te que vamos sair. Esqueces-te que tenho que recuperar o tempo perdido. – Disse o rapaz com simpatia.
-E onde vamos? – Perguntou Maria Madalena, enquanto se dirigia para o roupeiro do quarto em busca de algo para vestir.
-A qualquer lado. Que me importa. Estou de férias. Livre que nem um passarinho. Quero mais é aproveitar. – Respondeu Miguel com entusiasmo.
-Assim mesmo Miguel…assim é que eu te adoro.
-Adoras mesmo? – O rapaz questionou, mesmo junto ao ouvido de Lena.
-Sim! – Respondeu a rapariga em jeito de desafio.
-Muito! – Miguel sussurrou-lhe de modo sensual.
A rapariga voltou o rosto e ficaram de frente. Olhos nos olhos. Tão perto, tão seguros, tão maravilhados.
-Já…-Ordenou Miguel, quebrando a envolvência e dando-lhe uma leve pancadinha no traseiro.
-Menino! Está muito ousado? – A rapariga fingiu desagrado.
-Ó majestade…longe de mim faltar-lhe ao respeito. Apenas desejo que vossa senhoria mexa esse rabo, que estou impaciente.
-Mas que horas são? – Comentou Lena em jeito de pergunta.
-Muito perto das 19.00 horas e eu hoje tenho direito a assistir a um espectacular e deslumbrante pôr-do-sol na praia!
Maria Madalena recordou-se do inoportuno convite para um passeio ao entardecer!
-A sós…uma excelente experiência para relaxares e deleitares-te com a quietude e a beleza do momento. – Fantasiou Maria Madalena.
-A sós? – O rapaz mostrou um trejeito de descontentamento. – Quem disse tal? A quietude do meu espírito, a mansidão do meu corpo e a plenitude do meu ser passa por ti, pela nossa partilha.
A rapariga sorriu enquanto se dirigia à sala de banho privativa que a suite possuía.
-Vou vestir-me.
-Vou contigo… meu olhar reclama-te. – Galhofou o rapaz, enquanto dava um salto e ficava junto à porta da sala de banho.
-Se quiseres dispo-me e visto-me… aqui mesmo! - Desafiou Lena, olhando-o com malícia.
Miguel fixou-a no fundo dos olhos.
-Minha cruel Rainha…não me tente!
E a rapariga aparentou que levantava a T-Shirt com que dormira.
-Calma…não cries uma situação que eu não possa inverter! – O rapaz, embora divertido não deixava de aparentar um certo tremor.
-Tens medo de cair em tentação? – A rapariga tornava-se ousada, rodeando com os seus braços o pescoço do jovem.
Miguel retirou-lhe os braços com meiguice.
-Ó mulheres…levam eternidades a prepararem-se. Olha para mim T-Shirt prática e calções de banho.
-Vou já…azucrinador!
-Rápido! Vamos…aguardo-te lá em baixo.
-Miguel…-Chamou a rapariga. – Espera por mim aqui. Quero ter a certeza de que estás por perto.
-Lenita…estou em cima de ti! Poupa-me. – Brincou o rapaz.
-Como estás? Se nem um dedinho encostas em mim. – Divertiu-se a rapariga.
-Ai encosto, encosto…e daqui a pouco é a palma da mão bem assente!
Maria Madalena soltou uma gargalhada e entrou na casa de banho.
Miguel deambulou pelo quarto, até se sentar sobre a cama que Maria Madalena ocupara. Afagou o lugar com as mãos e mordeu o lábio em sinal de contenção. Depois pousou levemente o rosto sobre a almofada e inspirou profundamente o perfume que dela emanava.
-Miguel…-O som da voz da rapariga, vinda do interior da sala de banho, sobressaltou-o.
-Sim…-Respondeu.
-Como chegaste?
-De autocarro. – Respondeu com desinteresse.
-Mas foi de surpresa!
-Sim e Não…Mónica já estava informada! Falei com ela ontem à noite.
Então Miguel sabia que tinham estado na casa do Professor. – Reflectiu Maria Madalena. Mesmo assim queria certificar-se.
A rapariga já preparada encontrou Miguel junto à janela.
-A que horas contactas-te a Mónica? – Inquiriu Maria Madalena.
-Já era tarde. Foi quando me resolvi a vir! E consegui ter as questões todas resolvidas. – Respondeu o rapaz, olhando pela vidraça.
-E o teu pai está melhor?
-Já saiu do hospital mas ainda se encontra em convalescença! – Informou Miguel.
-E os teus irmãos?
-Ficaram lá. Não nos devemos ausentar todos. – Acrescentou o rapaz voltando-se para ela. – Estás pronta?
-Sim.
-Estás um encanto. – Garantiu Miguel.
-Vou dar uma voltinha, para apreciares melhor. – Rodopiou Maria Madalena, vestindo uns calções curtos de ganga e uma graciosa blusa branca de alças.
-Muitas não… que me dás a volta à cabeça. – Sorriu o jovem, semicerrando os olhos.
-Ficas tonto? – Sorriu também a rapariga com malícia.
-Já sou! – Miguel abanou a cabeça a confirmar.
-Sim és um tonto…adorável. – Disse a rapariga, pegando na bolsa e apanhando a mão que o rapaz lhe estendia da porta do quarto.